12 oct 2019

Dos poemas unidos a través del tiempo

Voeu

Si j'étais la feuille que roule
L'aile tournoyante du vent, 
Qui flotte sur l'eau qui s'écoule 
Et qu'on suit de l'oeil en rêvant; 

Je me livrerais, fraîche encore,
De la branche me détachant, 
Au zéphyr qui souffle à l'aurore, 
Au ruisseau qui vient du couchant.

Plus loin que le fleuve, qui gronde, 
Plus loin que les vastes forêts, 
Plus loin que la gorge profonde, 
Je fuirais, je courrais, j'irais!

Plus loin que l'antre de la louve, 
Plus loin que le bois des ramiers, 
Plus loin que la plaine où l'on trouve
Une fontaine et trois palmiers; 

Par delà ces rocs qui répandent
L'orage en torrent dans les blés, 
Par délà ce lac morne, où pendent 
Tant de buissons échevlés; 

Plus loin que les terres arides
Du chef maure au large ataghan, 
Dont le front pâle a plus de rides
Que la mer un jour d'ouragan.

Je franchirais comme la flèche
L'étang d'Arta, mouvant miroir, 
Et le mont dont la cime empêche 
Corinthe et Mykos de se voir.

Comme par un charme attirée,
Je m'arrêterais au matin
Sur Mykos, la ville carrée, 
La ville aux coupoles d'étain.

J'irais chez la fille du prêtre, 
Chez la blanche fille à l'eoil noir, 
Qui le jour chante à sa fenêtre, 
Et joue à sa porte le soir.

Enfin, pauvre feuille envolée, 
Je viendrais, au gré de mes voeux, 
Me poser sur son front, mêlée
Aux boucles de ses blonds cheveux; 

Comme une perruche au pied leste
Dans le blé jaune, ou bine encore
Comme, dans un jardin céleste, 
Un fruit vert sur un arbre d'or.

Et là, sur sa tête qui penche, 
Je seraism fût-ce peu d'instants, 
Plus fière que l'aigrette blanche 
Au front étoilé des sultants. 

Victor Hugo (Les Orientales, 1829)


Cuando Víctor Hugo incluyó este poema en su obra Les Orientales no podía imaginar los quebraderos de cabeza que originaría a un buen puñado de internautas del siglo XXI. Y es que más de un siglo después de la publicación de este poemario, el periodista y escritor brasileño Sérgio Jockymann dedicó unas palabras a los lectores del diario Folha da tarde con motivo de las fiestas navideñas, bajo el nombre de Os votos (Los votos o Los deseos), muy parecido al título que decidió poner Victor Hugo a su poema Voeu.

Os votos

Pois desejo primeiro que você ame e que amando, seja também amado.
E que se não o for, seja breve em esquecer e esquecendo não guarde mágoa.
Desejo depois que não seja só, mas que se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos e que mesmo maus e inconsequentes sejam corajosos e fiéis.
E que em pelo menos um deles você possa confiar e que confiando não duvide de sua confiança.
E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos, nem muitos hem poucos, mas na medida exata para que algumas vezes você se interpele a respeito de suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo para que você não se sinta demasiadamente seguro.
Desejo depois que você seja útil, não insubstituivelmente útil mas razoavelmente útil.
E que nos maus momentos, quando não restar mais nada, essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante, não com que os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com aqueles que erram muito e irremediavelmente.
E que essa tolerância nem se transforme em aplauso nem em permissividade, para que assim fazendo um bom uso dela, você dê também um exemplo para os outros.
Desejo que você sendo jovem não amadureça depressa demais,
e que sendo maduro não insista em rejuvenescer,
e que sendo velho não se dedique a desesperar.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram dentro de nós.
Desejo por sinal que você seja triste, não a ano todo, nem um mês e muito menos uma semana, mas apenas por um dia.
Mas que nesse dia de tristeza, você descubra que o riso diário é bom, o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra com o máximo de urgência acima e a despeito de tudo, talvez agora mesmo, mas se for impossível amanha de manha, que existem oprimidos, injustiçados e infelizes.
E que estão à sua volta, porque seu pai aceitou conviver com eles.
E que eles continuarão à volta de seus filhos, se você achar a convivência inevitável.
Desejo ainda que você afague um gato, que alimente um cão e ouça pelo menos um João-de-barro erguer triunfante seu canto matinal.
Porque assim você se sentirá bom por nada.
Desejo também que você plante uma semente por mais ridícula que seja e acompanhe seu crescimento dia a dia, para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro porque é preciso ser prático. E que pelo menos uma vez por ano você ponha uma porção dele na sua frente e dita: Isto é meu.
Só para que fique claro quem é o dono de quem.
Desejo ainda que você seja frugal, não inteiramente frugal, não obcecadamente frugal, mas apenas usualmente frugal.
Mas que essa frugalidade não impeça você de abusar quando o abuso se impor.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra, por ele e por você. Mas que se morrer, você possa chorar sem se culpar e sofrer sem se lamentar.
Desejo por fim que,
sendo mulher, você tenha um bom homem
e que sendo homem tenha uma boa mulher.
E que se amem hoje, amanhã, depois, no dia seguinte, mais uma vez e novamente de agora até o próximo ano acabar.
E que quando estiverem exaustos e sorridentes, ainda tenham amor para recomeçar.
E se isso  só acontecer, não tenho mais nada para desejar.

Sérgio Jockymann (Folha da tarde, 30/12/1978)


Con el transcurso del tiempo, alguien confundió los dos poemas y atribuyó erróneamente a Víctor Hugo el poema de Sérgio Jockymann. Por si esto fuera poco, cuando uno - por desconocimiento - busca el principio del poema en francés (je souhaite), encuentra una traducción inexacta e incompleta; y si lo buscáis en castellano, los primeros resultados que se encuentran son precisamente traducciones de la versión francesa.

Yo misma caí en el error hace unos años y hoy me apetecía leerlo de nuevo para trabajarlo en clase con mis alumnos. Me parecía muy extraño que no pudiera encontrar información de la obra en la que se publicó, hasta que media hora después he visto cual era el error. Así que he vuelto a encontrarme con la misma lección: aunque tenga prisa por encontrar algo, más vale indagar y contrastar la información que circula por Internet para evitar meter la pata...


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